Depois do neo-realismo, a afirmação de autores tão lendários como Federico Fellini ou Michelangelo Antonioni é essencial para compreendermos a evolução do cinema italiano. Mas não é suficiente. Isto porque, sobretudo ao longo das décadas de 1960/70, importa também conhecer realizadores tão versáteis como Mario Monicelli, Dino Risi ou Ettore Scola.
Scola assinou, por exemplo, o célebre “Feios, Porcos e Maus” (1976). Agora, numa plataforma de streaming, podemos ver ou rever um dos seus títulos mais perfeitos, “Um Dia Inesquecível” (1977), além do mais reunindo um par lendário: Sophia Loren e Marcello Mastroianni.
Trata-se de uma evocação de um momento muito particular (o título original é “Una Giornata Particolare”) do período politicamente conturbado que antecedeu a eclosão da Segunda Guerra Mundial. A acção decorre no dia 6 de Maio de 1938, data em que Benito Mussolini recebeu, em Roma, com grande pompa, a visita de Adolf Hitler. Em boa verdade, os festejos dos dois ditadores estão praticamente ausentes do filme (a não ser através de alguns sons), já que tudo acontece através de dois seres humanos que ficaram em casa: ela é Antonietta, uma mulher que preferiu não acompanhar o marido e os filhos nas ruas engalanadas; ele é Gabriele, vivendo uma existência mais ou menos marginal, já que sendo homossexual, e tendo como profissão o jornalismo, está na mira dos fascistas.
“Um Dia Particular” possui, assim, a capacidade de nos dar conta de uma dramática conjuntura histórica, não através de uma tradicional “reconstituição”, antes expondo a teia de cumplicidade e afecto que se vai desenhando entre aquelas duas personagens. Foi um dos acontecimentos maiores da produção italiana de 1977, tendo valido distinções dos prémios David di Donatello a Scola e Loren, respectivamente como melhor realizador e melhor actriz.